segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Vamos competir limpo (sempre)

O texto abaixo foi escrito por um amigo triatleta, Marcos Vilas Bôas, cansado de ver os trapaceiros fazendo a festa nas competições, mesmo assim ele mantém firme sua posição de honestidade. Esse final de semana mesmo, tivemos a corrida de revezamento Bertioga-Maresias e pasmem, tinha gente pegando carona nos carros pra subir a serra de Maresias...minha amiga Claudia Aratangy presenciou, leiam o relato dela sobre a prova aqui. Eu estava lá e fiz a tal da serra. Hoje minha panturrilha (entre outros músculos) está em frangalhos, mas minha consciência.... intacta.


Honestidade no esporte

Por Marcos Vilas Bôas

A qualidade de uma competição é diretamente proporcional a educação dos participantes.

Acredito completamente no que está escrito acima. Para mim é indiscutível. Aproveito para esclarecer que educação no esporte é o respeito com o qual tratamos quem está envolvido no processo.

Vamos lá. Sou atleta amador a bastante tempo, desde meus onze anos de idade quando comecei a velejar. Hoje me dedico ao triathlon. Adoro esse esporte. Gosto dos treinos, do ambiente da competição, do desafio e principalmente por ser um esporte individual. Sempre me dediquei a esportes individuais. Não tenho educação suficiente para praticar os coletivos.

Essa conversa começou logo após a última etapa do Troféu Brasil em Santos, mês passado. Estava comentando com a Thelma que tinha me saído bem na prova, mas que poderia ter ido melhor se tivesse pedalado bem. Aquelas desculpas básicas por não ter feito tanta força quanto deveria ou poderia. O fato é que saí da natação em terceiro lugar na minha categoria. Com uma transição rápida, saí em segundo pro pedal. Até aí, tudo bem. O que me incomodou foi ver alguns competidores passando em pares. Alguns deles da minha categoria. Lá pelo terceiro mini pelotão que passou tive vontade de pegar a roda, afinal, todos estavam roubando mesmo. Não fui, me lembrei da frase lá de cima e fiquei pedalando sozinho e pensando, na corrida eu passo eles, tudo bem. Passei vários deles e acabei terminando a prova em quinto lugar.

Concordo com a Thelma. Prefiro perder meu lugar no pódio a ganhar roubando. Subi orgulhoso para receber meu troféu. Aquele quinto lugar foi só meu. E é assim que tem que ser. Somos extremamente disciplinados. Nenhum triatleta de respeito pode se dar ao luxo de não ter disciplina. O que não entendo são os atletas que acham a disciplina importante nos treinos – seguir a planilha, treinar de acordo com volume e intensidade programados – e a desconsideram durante uma prova. Como se a competição fosse um vale tudo. Deixam de lado a educação com que tratam sua rotina de treinamento e mostram outro lado de suas personalidades. A prova é o momento que você testa se o seu treino está indo de acordo com o planejamento. Um dos melhores parâmetros que temos não é exatamente o tempo total da prova ou seus parciais. Esses podem variar por razões climáticas, medições equivocadas e tantos outros fatores. A comparação direta com aqueles que competimos é eficiente, pois as condições são iguais para todos, ou melhor, para aqueles que são educados.

Vácuo no triathlon é opcional. Meu técnico, o Emerson, sempre me falou isso. No Internacional de Santos esse ano me vi no meio de um pelotão. Fui mal-educado, não consegui sair dali. A pergunta que eu deveria ter feito na hora era: eu conseguiria pedalar a 45km/h se estivesse fora do pelotão? É claro que não. Então reduza e deixa o pelotão ir embora. Sem contar o risco de pedalar em um pelotão de pessoas que não conheço. Você anda em um pelotão de desconhecidos nos treinos? Claro que não.

Fui penalizado por vácuo no 70.3 esse ano em Penha. Estava pedalando sozinho com dois parasitas na minha roda. Nem percebi a presença deles até a moto nos parar. É minha responsabilidade também evitar que isso aconteça foi o que ouvi da equipe da MPR que estava lá. Se fui penalizado é porque parecia que estava revezando. Você deve se cuidar para não permitir o vácuo também. Concordo com eles.

Mas todos nós já vimos o tenista que canta uma bola fora, quando foi claramente dentro, a falta desnecessária no futebol, o velejador que não respeita a medição do barco ou retira peso, o doping e tantas outras atitudes.

O esporte é o reflexo da educação das pessoas. Não há necessidade de fiscalização maior nas provas. O troféu Brasil é bem fiscalizado, é muito bem organizado, mas é impossível evitar o mal educado dessa maneira.

Mas a coisa não é assim tão ruim. O mal educado não tem disciplina. Então ele não treina tão bem quanto você, não se dedica tanto quanto você e sempre dependerá da sorte para conseguir um bom tempo no ciclismo. Ele está no fundo do pelotão o tempo todo no treino, e quando vai puxar muda a velocidade estabelecida. Minha resposta para eles é a seguinte. Hoje acordei cedo de novo e segui minha planilha. Fiz aquele treino de qualidade que a Thelma escreveu outro dia. Tive dedicação, disciplina. Na próxima prova eles não vão estar tão perto de mim no ciclismo. Talvez nem me vejam. O ciclismo é só um terço desse esporte.

Vou continuar sendo educado.

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