sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Quando a USP fechou para as bicicletas

Quero escrever esse post para os velhos de guerra manterem fresco na memória o que aconteceu e para a nova geração conhecer a história e não deixar que as coisas cheguem ao ponto que chegaram.

No dia 25 de abril de 2005 a USP fechou para nós ciclistas. Foi um desespero total, assessorias, ciclistas, fabricantes de bike, mecânicos, lojistas, todo mundo contando o prejuízo. Nós fizemos rolo por muito tempo. Eu fiquei sócia do Clube Bandeirante de remo pra poder entrar, mas mesmo assim era encrenca (vai explicar porque eu tinha uma bike dentro do carro se eu era do remo...) não podíamos circular na avenida da raia olímpica, os guardinhas faziam barricada. Eu lembro do pessoal da MPR, que de alguma forma descolou uma carteirinha da USP, fazendo aula só lá no hospital universitário (HU), "escondido".
Nós parávamos o carro na rotatória do Instituto Oceanográfico e ficávamos circulando só de lá pra cima. E ficamos muito tempo fazendo isso.

Tudo começou com um tal de "pelotão da morte" que circulava à noite, eram centenas de ciclistas selvagens que infernizavam a vida dos USPianos. Eles pedalavam a 50km/h no meio dos carros, xingavam todo mundo, não respeitavam nada. De manhã também tinham pelotões grandes que atrapalhavam o trânsito dos carros, dos ônibus e dos pedestres. Tinha uma galera que fazia xixi na reitoria e não tava nem aí se tinha alguém olhando. Resumindo : os ciclistas eram odiados por todos e com razão.

A prefeitura da USP recebia milhares de reclamações diariamente até que eles cansaram e decidiram fechar a USP para as bicicletas. Foi uma loucura, reuniões e mais reuniões com todos os segmentos envolvidos e o prefeito da USP era irredutível. Apelaram para a reitoria, para o governador, para as rádios, jornais, políticos e nada. Bateu desespero. Fizemos uma bicicletada saindo do Jockey até a USP e dentro da USP fomos em passeata até a prefeitura universitária, eu estava lá, eu lembro de tudo e lembro que o Marcos Paulo também estava lá. A MPR foi uma das únicas assessorias a estarem presentes sempre em todas as lutas para reabertura e depois que reabriram, foi uma das únicas que seguiram as restrições à risca.

Eu lembro também que eu saí mandando e-mail pra todo lado, secretário de esportes, assessores, mandei um e-mail para o titio Marco Antonio da rádio Kiss FM explicando nossa situação periclitante, que por causa de uns babacas a gente estava sem poder treinar triathlon na cidade de São Paulo. Ele leu meu e-mail no ar, foi uma chuva de telefonemas e e-mails aquela noite (tanto de gente apoiando o fechamento como de gente apoiando a reabertura). Os caras da rádio ficaram bem felizes com a repercussão e me mandaram um par de convites para ir ao cinema (dã).

Depois de muita conversa, um projeto com regras e restrições foi redigido pelas assessorias, ciclistas, federação, lojistas, etc e com muitas pessoas influentes, conseguimos reabrir a USP.

Só podíamos ficar até às 6:45, não podíamos subir a biologia, não podíamos circular na rotatória da reitoria, não podíamos formar pelotão com mais de 4 integrantes e tínhamos que colocar uma placa com número fornecida pela federação paulista de ciclismo. Para obter essa placa, tínhamos que nos cadastrar num sistema informatizado e retirá-la em algumas lojas de ciclismo. Ainda existem uns ciclistas que circulam com essa plaquinha por lá, eu guardei a minha como recordação. Na verdade, essas restrições ainda estão de pé e vira e mexe o pessoal da USP ameaça as assessorias de fechar de novo a USP por conta de ciclistas mal educados e sem noção.

Durante a semana, quem trabalha não tem outro lugar para treinar na cidade de São Paulo. A USP é nossa jóia. Vamos respeitá-la, tratar bem os pedestres, respeitar a circulação de automóveis, respeitar os corredores de sábado, agradecer os motoristas de ônibus que são bacanas, ignorar as ofensas dos estressados, não pedalar além das 7h da manhã, não circular na biologia (os motoristas de ônibus agradecem) e evitar grandes pelotões. É o mínimo que podemos fazer para que isso não aconteça nunca mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário, obrigada!