segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A história de um atleta em ambos os lados do P.S.

Por Samantha McGlone (triatleta profissional – campeã mundial do Ironman 70.3)

Se existe alguém que personifica a mentalidade de fazer o seu melhor em qualquer situação, essa pessoa é o meu amigo Josh Riff. Josh é um cara muito educado, humilde e amigável. Ele também é um homem de família, médico brilhante e um atleta fenomenal. Ele completou o Ironman do Hawaii em 10 horas enquanto era um médico residente em emergência, a qual é uma das ocupações mais estressantes e que exigem maior dedicação de tempo.
Mas em 2006 sua vida virou de ponta-cabeça quando ele foi atingido por um caminhão enquanto estava treinando há apenas 6 km de sua casa, alguns dias antes de ir para Kona [também conhecida como Big island - ilha do Ironman no Hawaii]. Sua perna quebrou em 2 lugares; os médicos disseram que ele nunca mais poderia voltar a competir. Esse seria o último Ironman de Josh porque sua esposa estava para ter neném alguns meses depois.
Um acidente como esse é sempre traumático, mas para Josh, acontecer nesse momento em especial foi de partir o coração, praticamente na véspera do seu canto do cisne, tendo treinado por tanto tempo e chegado tão perto.
Disseram a Josh que ele sequer poderia andar com a perna machucada por pelo menos 3 meses. Seu emprego, em uma sala enorme de emergência, exigia que ele caminhasse por 3 a 4,5 km por turno, impossível de ser feito quando se tem uma tala de perna inteira e muletas. Mas Josh é um tanto hiper-ativo e não do tipo que fica sentado sentindo pena de si mesmo esperando pela recuperação. Em um mês ele estava dando voltas na pista local de corrida nas suas muletas até que ele conseguisse completar 4.5km em uma perna.
Houve um pequeno contratempo quando, depois de 2 semanas de treinamento, ele escorregou e quebrou seu outro pé, mas Josh tinha a determinação e a teimosia que são a base de tantas histórias de sucesso. Para provar essa afirmação, ele logo estava dando voltas com suas muletas pelo hospital.
Dois anos depois, Dr. Riff tem uma nova carreira como médico diretor da Target Clinics (seu negócio atual) e ainda continua trabalhando na emergência. Seu filho agora é uma criancinha e ele tem um outro bebê a caminho, portanto ele continua tão ocupado como sempre. Mas depois de um ano de reabilitação, ele estava se mordendo para correr novamente.
Josh fez uma ½ maratona, com sua esposa e seu irmão, apenas para se divertir. Completou em 1h20. Isso o fez pensar que talvez ele ainda não tivesse terminado seu negócio com o triathlon. Os médicos haviam dito que ele não poderia correr novamente e eles estavam completamente errados. Ainda buscando por um epílogo, após perder sua última chance em Kona, ele perguntou a si mesmo se ainda poderia conseguir completar um último Ironman.
Fora do triathlon por 2 anos, Josh voltou a pedalar e começou a treinar para mais uma competição – sua meta era o IM Coeur d’Alene.
Num dia úmido, logo no início da temporada de treinos, ele se acidentou numa competição de ciclismo e mais uma vez terminou no lado errado do P.S. com uma fratura na região pélvica. Sua competição alvo foi adiada para o IM Arizona no final de novembro e ele apenas voltou a correr em agosto. Com a família crescendo e dois empregos esgotantes, Josh treinou não mais que 15 horas semanais. No dia da competição ele ainda não tinha completado um treino de corrida de mais de 24 km desde o acidente, 2 anos antes.
Ele terminou o IM Arizona em 9h29, seu novo record pessoal.
A história de Josh é uma grande lição sobre encontrar a linha prateada por entre as nuvens negras da chuva. Ao invés de ficar se lamentando, amargurado sobre seu primeiro acidente, Josh credita sua nova carreira a ele. Se ele não estivesse deitado no sofá, de saco cheio, percorrendo seus e-mails antigos não lidos, talvez ele nunca tivesse visto a oferta de emprego da Target. Ao invés de ficar remoendo a perda, ele focou na inesperada oportunidade para alavancar sua carreira.
Josh diz que o acidente lhe deu perspectiva (entendendo que, no final das contas, era só uma competição) e aprendeu a importância da “periodização da vida”, uma filosofia que, a meu ver, mais pessoas deveriam abraçar. Ele diz que existem momentos em que o nosso trabalho é a coisa mais importante; momentos em que é a sua família; e pode haver vezes em que o treinamento ganha prioridade, mas, definitivamente, não o tempo todo.
Este homem que uma vez espremeu 5 horas de sessões de Computrainer [bicicleta estacionária] entre os turnos do P.S. descobriu, voltando de uma lesão, que ele estava treinando menos mas mesmo assim, ficando mais rápido. Ele ainda podia ir lá, competir e curtir o triathlon sem devotar cada minuto livre para ele. Quando voltou a competir, se lembrou do que mais ele sentia falta no esporte – não as horas de treinos completados mas mais que isso, as amizades e a camaradagem que surge quando pessoas de todo o mundo se juntam para sofrerem juntas.
O acidente de Josh foi tão devastador porque ele achou que havia perdido sua última chance de competir. Tendo voltado para o triathlon com sucesso, com menos volume e mais equilíbrio, ele diz que outra viagem para a Big Island pode muito bem estar nos planos futuros.
“Triathlon é definitivamente mais que um hobby”, diz Josh, “ele se tornou um estilo de vida, mas nós todos devemos ter uma visão clara e escolher as prioridades. Se eu for para Kona, provavelmente não terei a mesma performance que tive no passado, mas tendo consciência de que eu faria esse Ironman como um marido, um pai, um executivo e um médico, essa performance significaria mais para mim do que um record pessoal”.

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