terça-feira, 17 de agosto de 2010

Correndo sem tênis (Parte 1)


“Contrário ao mito popular, eu NÃO recomendo correr descalço. Esta decisão, e responsabilidade, é somente sua. Entretanto, eu o recomendo A PENSAR.... Pensar sobre porque nós compramos o mito de que os humanos foram prejudicados pela natureza, enquanto todos os outros animais se dão bem sem vestir calçados."
Ken Bob Saxton, o guru dos corredores descalços

Quando eu era pequena, costumava passar as férias num sítio na região de Sorocaba. A primeira coisa que eu fazia ao chegar era tirar o que tinha no pé e ficar descalça. No começo era muito ruim, as pedrinhas do chão machucavam muito meus pés delicados de criança criada em cidade grande, sempre calçados. Mas eu já tirava logo que era pra ir acostumando e poder brincar logo com minha amiguinha que morava lá. Rápido eu aprendi que uma diferença básica entre correr descalço e correr com calçado é que correr sem nada nos pés exige muito mais delicadeza na aterrissagem, a gente praticamente corre na ponta dos pés e com as pernas levemente flexionadas o tempo todo, passadas curtas, segurando o peso do corpo pra não ir com tudo sobre o calcanhar, o chão é duro e as pedrinhas machucam. Outra coisa que acontece ao correr descalço é que os dedos dos pés “agarram” o chão, eles ajudam a equilibrar o corpo nas passadas. Para escalar morros e pedras então o pé solto era o bicho. Lógico que às vezes ralava os dedos ou machucava com algum galho, enfiava fiapo na pele. Nada que um sabãozinho e uma agulha desinfetada não resolvesse.

Eu estudei numa escola da prefeitura até os 9 anos, lembro que o uniforme de educação física era um shorts branco, saia pregueada branca, camiseta de algodão com o símbolo da escola, meia branca fininha e conga branca. Pra quem não conhece ou não se lembra, a conga era nada mais nada menos do que uma fina sola de borracha com lona por cima. Pra se ter uma ideia da “finura” do solado da conga, os chinelos havaianas tem muito mais borracha. E era assim que eu jogava queimada, apostava corrida, simulava salto em distância, jogava vôlei, basquete, etc. Nunca machuquei joelho, tornozelo, pé, nada.

Sempre gostei de correr com pouca borracha sob os pés, acho que por conta desse meu histórico, me acostumei a correr dessa forma, com tênis com pouco amortecimento, gosto de sentir o chão. Mas a mídia, os profissionais de educação física, médicos, fabricantes de calçados, todos falando em uníssono que devemos usar tênis com amortecimento para evitar lesões, supinador é um tipo de tênis, pronador outro, pisada normal outro, acabei comprando tênis com os mais variados graus de amortecimento. Será que era mesmo necessário?

Foi feita uma pesquisa em Harvard sob a orientação do Dr Daniel Lieberman, do departamento de biologia evolucionária humana e chegaram à conclusão de que quando corremos descalços, mudamos completamente a passada: evitamos cair com o peso sobre o calcanhar. (Veja artigo aqui)

Basicamente ele comprova que, ao correr, quem aterrissa mais pra ponta dos pés gera um impacto menor do que quem aterrissa com o calcanhar. O artigo é bem completo e vale seguir seus links, tem fotos e vídeos.

Um site bem interessante, em português, é esse : http://pes-descalcos.org/run/

Eu estou migrando para tênis cada vez mais minimalista e uma vez por semana dou um trote leve descalça na grama, estou aumentando aos poucos o tempo desse trote. Primeiro porque são anos usando tênis, então estou com a mecânica da corrida viciada nele e minha musculatura de pés e pernas está atrofiada para correr descalça. Muita calma nessa hora senão a gente se machuca fácil. Acredito que meus pés estão se fortalecendo com isso, mesmo que eu continue a correr de tênis na maior parte do tempo.

2 comentários:

  1. Quando a gente descobre como as pesquisas e estudos são manipulados pra atender este ou aquele fabricante, fica desconfiado de tudo! Pelo menos, correr descalço, não vende tênis! Cadê a parte 2? Demorô!

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  2. Estou fazendo o mesmo, faço minhas corridas descalço na praia no final de semana, andando descalço em casa. Adaptação é tudo senão o risco de lesão é grande. Ótimo post, estou esperando a parte 2.

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