Quando tive uma TVP na perna esquerda, fiquei 1 semana de perna pro ar (literalmente) no hospital e depois que voltei para casa não poderia fazer nenhum exercício físico intenso ou de impacto por uns tempos. Para uma triatleta viciada em exercícios, que completava 5 treinos de natação, 5 de corrida, 4 de bike e 2 musculas por semana, não seria nada, digamos, natural, para mim, ficar completamente sedentária por tanto tempo. Não posso negar que engordar muito ou ficar com péssimo mau humor também faziam parte das minhas preocupações.
A única coisa que estava totalmente liberada para mim era caminhar. Eu resolvi fazer tudo a pé: punha minha mochila nas costas, uma água, uma fruta, um som no ouvido e ia caminhando e cantando e seguindo a canção... ia fazer meus exames periódicos a pé, aproveitava e caminhava um pouco mais na volta. Ia ao clube a pé, caminhava lá dentro nas arquibancadas do estádio de futebol, voltava ladeira acima a pé. Eu procurava as ladeiras para fazer o coração bater um pouco mais forte. Era muito bom chegar suada em casa na volta. Ia ao shopping a pé, lá dentro, optava sempre pelas escadas normais, xô escada rolante! No metrô: escada. Elevador nos prédios, independentemente do andar, eu estava fora. Subia de escada. Ia na boa, subindo devagar para seguir as ordens médicas.
Dessa forma eu consegui segurar a peteca sem engordar e, principalmente, sem perder a saúde física e mental. Devo admitir que nessas caminhadas pude pensar bastante na vida, mudar alguns pesos e conceitos. Passei a me perguntar se essas "facilidades" de locomoção eram realmente necessárias na nossa vida que, de repente, se todo mundo optasse, sempre que possível, pelo próprio motor, o mundo seria um lugar diferente. E não é exagero. Pense bem. As pessoas teriam mais saúde, portanto menos filas nos hospitais, mais disposição para produzir, criar. Os carros ficariam em casa mais tempo, portanto o ar ficaria menos poluído, diminuiria o trânsito, o barulho, o stress. E, viajando mais ainda no assunto: se estamos usando apenas nossa energia acumulada, economizamos também as fontes naturais (água, petróleo, cana de açúcar, etc) desonerando o planeta.
Aos poucos fui liberada para algumas atividades físicas, como natação e corrida. Só o ciclismo que ficou meio de lado por causa do anticoagulante. Nadar nunca foi muito a minha praia, então comecei a correr mais e acrescentei à minha corrida esse gostinho de liberdade que ganhei nas minhas caminhadas...correr na esteira, que já era um sofrimento, passou a ser um martírio. Somente em último caso. Então eu passei a correr pelos mesmos caminhos que antes eu fazia caminhando, só que me permiti ir mais longe, 20 a 25 km era uma distância bem comum para mim nesses dias. Agora era "correndo e cantando e seguindo a canção..."som no ouvido, gel no bolso, dinheirinho para a água, corria apenas pelo prazer de correr, sem metas, sem cobranças.
Hoje estou 100% curada e totalmente liberada para qualquer atividade física. Mas essas experiências mudaram minha visão sobre várias coisas, principalmente me fizeram pensar na real necessidade, em certas situações, de utilizarmos outros motores a não ser nosso próprio corpo. Eu ainda estou nesse exercício, mudando alguns velhos hábitos, encaixando a caminhada, a escada e a corrida onde possível e o resultado disso, mais que salvar minha saúde, foi abrir meus olhos para a questão da cidadania : contribuir para um mundo melhor. Talvez seja tão importante quanto.
E aí Thelma? Posso repetir tuas palavras no meu blog? 100% de alma no post de hoje. Uma vez você me perguntou se colocar aquela imagem no meu msn e passar um email para meus amigos iria fazer alguma diferença no planeta. Na época respondi que achava que sim, o que vc acha?
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