quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Fazendo a diferença

Montar uma planilha de treinos não é nenhum segredo, todo mundo faz mais ou menos a mesma coisa no triathlon. Um pouco mais de volume nas deficiências, um pouco mais de trabalho muscular de tempos em tempos, dependendo da prova alvo, todo mundo tem treino bem parecido.

Geneticamente falando também, somos muito equilibrados, a não ser que você seja um fenômeno mas, em geral, temos o mesmo potencial atlético. Então, o que faz com que uns cheguem em primeiro e outros em segundo, ou terceiro, etc ?

Em primeiro lugar, a vontade de treinar. Porque vontade de ganhar todo mundo tem na mesma intensidade. Então, o que vai fazer a diferença, no final das contas, é o quanto você treina e não é qualquer tipo de treino, não é sair treinando como louco, mas ter qualidade nos treinos. O campeão é aquele que persiste mais um pouquinho no esforço quando todo mundo desistiu. A diferença do campeão para o segundo lugar está nos pequenos detalhes. Por exemplo, num treino de força com subidas no pedal: o treino é fazer 10 vezes a subida. O campeão é aquele que faz todas as 10 subidas consciente, pensando na técnica em cada subida e que reserva para as 2 últimas, um esforço extra, só pra testar seus limites, estudar seu corpo. A maioria dos atletas vai cumprir sua obrigação, subir as 10 vezes como sempre fez, dentro de um esforço relativamente confortável. Veja que todo mundo nesse treino fez 10 subidas mas quem treinou melhor ?

Em segundo lugar, a cabeça. Definindo "cabeça" : confiança em si, mentalização positiva, equilíbrio. Confie em si : confie no quanto você treinou, conheça seus limites. Quando você estiver fazendo um tiro de VO2, na corrida por exemplo, vá até seu limite, teste seu corpo, veja qual é a diferença entre "estou passeando", "estou no limite", "estou quebrando", "quebrei". Mentalização : mentalize a prova, mentalize você superando suas maiores deficiências, mas mais importante, mentalize como você está se sentindo fazendo isso : bem, forte, confiante. Isso funciona! Equilíbrio : permita-se ter preguiça e descanse, permita-se sair com seus amigos, permita-se enfiar o pé na jaca de vez em quando, permita-se comer aquela pizza cheia de gordura trans com coca-cola (muito de vez em quando...).

Aprenda com os erros : tire lições de todas as dificuldades.Faça uma auto-análise : Onde errei ? Por que errei ? Como melhorar ? Pergunte ao seu técnico, leia artigos especializados, converse com quem faz direito, peça dicas. Tente melhorar sempre.

Mantenha-se motivado : participe de provas, estabeleça metas, busque desafios, assista provas e vídeos de provas de triathlon, às vezes eu assisto um e tenho vontade de pegar a bike e cair no mundo!

Essas são coisas que me parecem importantes, claro que não é tudo, mas é um bom começo.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Top 5 de todos os tempos no Ironman

Depois de assistir 14 dvds de Ironman do Hawaii (1994 a 2008), várias vezes cada um, me sinto habilitada a emitir minha opinião sobre os 5 melhores atletas, homens e mulheres, que competiram na Big Island. Coloquei também a lista dos 5 atletas que mais me inspiraram (e inspiram) de alguma forma.

Homens
  1. Dave Scott (o cara)
  2. Mark Allen (o guru)
  3. Peter Reid (a máquina)
  4. Thomas Hellriegel (o consistente)
  5. Luc Van Lierd (o mais rápido)

Mulheres

  1. Paula Newby Fraser (a rainha)
  2. Natascha Badmann (a guerreira)
  3. Chrissie Wellington (o fenômeno)
  4. Lori Bowden (a maratonista)
  5. Fernanda Keller (a consistente)

Inspiração Homem

  1. Mark Allen (tente novamente)
  2. Dave Scott (esporte é saúde)
  3. Peter Reid (sou de carne e osso)
  4. Marc Herremans (a vida segue)
  5. Dick Hoyt (eu consigo)

Inspiração Mulher

  1. Natascha Badmann (amo muito tudo isso)
  2. Chrissie Wellington (ainda posso fazer melhor)
  3. Heather Fuhr (seja humilde, seja competente)
  4. Julie Moss (cruze a linha de chegada)
  5. Sister Madonna Buder (só vou parar quando o Senhor me chamar)
(Sister Madonna Buder completou o Ironman do Canadá, no dia 30/08/2009 aos 79 anos de idade e diz que voltará no ano que vem para ser a mulher mais velha a completar um Ironman, aos 80 anos - seu segredo : ela treina religiosamente)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A história de um atleta em ambos os lados do P.S.

Por Samantha McGlone (triatleta profissional – campeã mundial do Ironman 70.3)

Se existe alguém que personifica a mentalidade de fazer o seu melhor em qualquer situação, essa pessoa é o meu amigo Josh Riff. Josh é um cara muito educado, humilde e amigável. Ele também é um homem de família, médico brilhante e um atleta fenomenal. Ele completou o Ironman do Hawaii em 10 horas enquanto era um médico residente em emergência, a qual é uma das ocupações mais estressantes e que exigem maior dedicação de tempo.
Mas em 2006 sua vida virou de ponta-cabeça quando ele foi atingido por um caminhão enquanto estava treinando há apenas 6 km de sua casa, alguns dias antes de ir para Kona [também conhecida como Big island - ilha do Ironman no Hawaii]. Sua perna quebrou em 2 lugares; os médicos disseram que ele nunca mais poderia voltar a competir. Esse seria o último Ironman de Josh porque sua esposa estava para ter neném alguns meses depois.
Um acidente como esse é sempre traumático, mas para Josh, acontecer nesse momento em especial foi de partir o coração, praticamente na véspera do seu canto do cisne, tendo treinado por tanto tempo e chegado tão perto.
Disseram a Josh que ele sequer poderia andar com a perna machucada por pelo menos 3 meses. Seu emprego, em uma sala enorme de emergência, exigia que ele caminhasse por 3 a 4,5 km por turno, impossível de ser feito quando se tem uma tala de perna inteira e muletas. Mas Josh é um tanto hiper-ativo e não do tipo que fica sentado sentindo pena de si mesmo esperando pela recuperação. Em um mês ele estava dando voltas na pista local de corrida nas suas muletas até que ele conseguisse completar 4.5km em uma perna.
Houve um pequeno contratempo quando, depois de 2 semanas de treinamento, ele escorregou e quebrou seu outro pé, mas Josh tinha a determinação e a teimosia que são a base de tantas histórias de sucesso. Para provar essa afirmação, ele logo estava dando voltas com suas muletas pelo hospital.
Dois anos depois, Dr. Riff tem uma nova carreira como médico diretor da Target Clinics (seu negócio atual) e ainda continua trabalhando na emergência. Seu filho agora é uma criancinha e ele tem um outro bebê a caminho, portanto ele continua tão ocupado como sempre. Mas depois de um ano de reabilitação, ele estava se mordendo para correr novamente.
Josh fez uma ½ maratona, com sua esposa e seu irmão, apenas para se divertir. Completou em 1h20. Isso o fez pensar que talvez ele ainda não tivesse terminado seu negócio com o triathlon. Os médicos haviam dito que ele não poderia correr novamente e eles estavam completamente errados. Ainda buscando por um epílogo, após perder sua última chance em Kona, ele perguntou a si mesmo se ainda poderia conseguir completar um último Ironman.
Fora do triathlon por 2 anos, Josh voltou a pedalar e começou a treinar para mais uma competição – sua meta era o IM Coeur d’Alene.
Num dia úmido, logo no início da temporada de treinos, ele se acidentou numa competição de ciclismo e mais uma vez terminou no lado errado do P.S. com uma fratura na região pélvica. Sua competição alvo foi adiada para o IM Arizona no final de novembro e ele apenas voltou a correr em agosto. Com a família crescendo e dois empregos esgotantes, Josh treinou não mais que 15 horas semanais. No dia da competição ele ainda não tinha completado um treino de corrida de mais de 24 km desde o acidente, 2 anos antes.
Ele terminou o IM Arizona em 9h29, seu novo record pessoal.
A história de Josh é uma grande lição sobre encontrar a linha prateada por entre as nuvens negras da chuva. Ao invés de ficar se lamentando, amargurado sobre seu primeiro acidente, Josh credita sua nova carreira a ele. Se ele não estivesse deitado no sofá, de saco cheio, percorrendo seus e-mails antigos não lidos, talvez ele nunca tivesse visto a oferta de emprego da Target. Ao invés de ficar remoendo a perda, ele focou na inesperada oportunidade para alavancar sua carreira.
Josh diz que o acidente lhe deu perspectiva (entendendo que, no final das contas, era só uma competição) e aprendeu a importância da “periodização da vida”, uma filosofia que, a meu ver, mais pessoas deveriam abraçar. Ele diz que existem momentos em que o nosso trabalho é a coisa mais importante; momentos em que é a sua família; e pode haver vezes em que o treinamento ganha prioridade, mas, definitivamente, não o tempo todo.
Este homem que uma vez espremeu 5 horas de sessões de Computrainer [bicicleta estacionária] entre os turnos do P.S. descobriu, voltando de uma lesão, que ele estava treinando menos mas mesmo assim, ficando mais rápido. Ele ainda podia ir lá, competir e curtir o triathlon sem devotar cada minuto livre para ele. Quando voltou a competir, se lembrou do que mais ele sentia falta no esporte – não as horas de treinos completados mas mais que isso, as amizades e a camaradagem que surge quando pessoas de todo o mundo se juntam para sofrerem juntas.
O acidente de Josh foi tão devastador porque ele achou que havia perdido sua última chance de competir. Tendo voltado para o triathlon com sucesso, com menos volume e mais equilíbrio, ele diz que outra viagem para a Big Island pode muito bem estar nos planos futuros.
“Triathlon é definitivamente mais que um hobby”, diz Josh, “ele se tornou um estilo de vida, mas nós todos devemos ter uma visão clara e escolher as prioridades. Se eu for para Kona, provavelmente não terei a mesma performance que tive no passado, mas tendo consciência de que eu faria esse Ironman como um marido, um pai, um executivo e um médico, essa performance significaria mais para mim do que um record pessoal”.

domingo, 27 de setembro de 2009

Periodização da vida

O triathlon é um esporte que, quando praticado com seriedade, exige uma grande dedicação. A maioria dos triatletas que eu conheço são pessoas determinadas, multiprocessadas (que gostam de fazer várias coisas ao mesmo tempo) e perfeccionistas. Nós depositamos uma quantidade grande de tempo e de energia no nosso esporte.

O triathlon faz parte do meu cotidiano, é minha higiene mental, ele me mantém em forma e saudável, por ele eu como e durmo bem, ele me ajuda a manter minha auto-estima elevada. Amo meu esporte, mas ele não é tudo.

Eu acho que é possível conciliar nossa vida de triatleta com nossa vida pessoal sem ficar devendo nada para nenhuma das duas. É uma questão de se organizar e de definir prioridades.

Outro dia li um artigo de um médico triatleta americano, ele sofrera uma série de acidentes que o impediam de treinar e, por conta disso, se dedicou a outros aspectos de sua vida, encontrando oportunidades que, do contrário, não teria tempo de procurar (um dia transcrevo a história dele num post que é incrível)...mas ele dizia que devemos periodizar nossa vida assim como as planilhas de treino são periodizadas de acordo com a temporada de competições : em alguns momentos devemos focar nossas energias no nosso trabalho (ou estudo), em outros, nas nossas relações humanas (família, amizades, namorado) e em outros no nosso esporte (Ironman) . Eu concordo com ele e acho que essa comparação foi muito bem sacada. No momento estou focando nas relações humanas e estou adorando e você ?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Quando a USP fechou para as bicicletas

Quero escrever esse post para os velhos de guerra manterem fresco na memória o que aconteceu e para a nova geração conhecer a história e não deixar que as coisas cheguem ao ponto que chegaram.

No dia 25 de abril de 2005 a USP fechou para nós ciclistas. Foi um desespero total, assessorias, ciclistas, fabricantes de bike, mecânicos, lojistas, todo mundo contando o prejuízo. Nós fizemos rolo por muito tempo. Eu fiquei sócia do Clube Bandeirante de remo pra poder entrar, mas mesmo assim era encrenca (vai explicar porque eu tinha uma bike dentro do carro se eu era do remo...) não podíamos circular na avenida da raia olímpica, os guardinhas faziam barricada. Eu lembro do pessoal da MPR, que de alguma forma descolou uma carteirinha da USP, fazendo aula só lá no hospital universitário (HU), "escondido".
Nós parávamos o carro na rotatória do Instituto Oceanográfico e ficávamos circulando só de lá pra cima. E ficamos muito tempo fazendo isso.

Tudo começou com um tal de "pelotão da morte" que circulava à noite, eram centenas de ciclistas selvagens que infernizavam a vida dos USPianos. Eles pedalavam a 50km/h no meio dos carros, xingavam todo mundo, não respeitavam nada. De manhã também tinham pelotões grandes que atrapalhavam o trânsito dos carros, dos ônibus e dos pedestres. Tinha uma galera que fazia xixi na reitoria e não tava nem aí se tinha alguém olhando. Resumindo : os ciclistas eram odiados por todos e com razão.

A prefeitura da USP recebia milhares de reclamações diariamente até que eles cansaram e decidiram fechar a USP para as bicicletas. Foi uma loucura, reuniões e mais reuniões com todos os segmentos envolvidos e o prefeito da USP era irredutível. Apelaram para a reitoria, para o governador, para as rádios, jornais, políticos e nada. Bateu desespero. Fizemos uma bicicletada saindo do Jockey até a USP e dentro da USP fomos em passeata até a prefeitura universitária, eu estava lá, eu lembro de tudo e lembro que o Marcos Paulo também estava lá. A MPR foi uma das únicas assessorias a estarem presentes sempre em todas as lutas para reabertura e depois que reabriram, foi uma das únicas que seguiram as restrições à risca.

Eu lembro também que eu saí mandando e-mail pra todo lado, secretário de esportes, assessores, mandei um e-mail para o titio Marco Antonio da rádio Kiss FM explicando nossa situação periclitante, que por causa de uns babacas a gente estava sem poder treinar triathlon na cidade de São Paulo. Ele leu meu e-mail no ar, foi uma chuva de telefonemas e e-mails aquela noite (tanto de gente apoiando o fechamento como de gente apoiando a reabertura). Os caras da rádio ficaram bem felizes com a repercussão e me mandaram um par de convites para ir ao cinema (dã).

Depois de muita conversa, um projeto com regras e restrições foi redigido pelas assessorias, ciclistas, federação, lojistas, etc e com muitas pessoas influentes, conseguimos reabrir a USP.

Só podíamos ficar até às 6:45, não podíamos subir a biologia, não podíamos circular na rotatória da reitoria, não podíamos formar pelotão com mais de 4 integrantes e tínhamos que colocar uma placa com número fornecida pela federação paulista de ciclismo. Para obter essa placa, tínhamos que nos cadastrar num sistema informatizado e retirá-la em algumas lojas de ciclismo. Ainda existem uns ciclistas que circulam com essa plaquinha por lá, eu guardei a minha como recordação. Na verdade, essas restrições ainda estão de pé e vira e mexe o pessoal da USP ameaça as assessorias de fechar de novo a USP por conta de ciclistas mal educados e sem noção.

Durante a semana, quem trabalha não tem outro lugar para treinar na cidade de São Paulo. A USP é nossa jóia. Vamos respeitá-la, tratar bem os pedestres, respeitar a circulação de automóveis, respeitar os corredores de sábado, agradecer os motoristas de ônibus que são bacanas, ignorar as ofensas dos estressados, não pedalar além das 7h da manhã, não circular na biologia (os motoristas de ônibus agradecem) e evitar grandes pelotões. É o mínimo que podemos fazer para que isso não aconteça nunca mais.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Maratona de Amsterdam (parte 2)

Os postos de hidratação são uma lástima, tudo em copinho de papel com 150ml de líquido dentro...maior desespero, precisava pegar vários e pra isso praticamente caminhava. O gatorade deles era uma porcaria, na verdade era suquinho e não tinha sais, me ferrei com isso. Eu aconselho que se leve cápsulas de sal pra essa prova, mas a dosagem deve ser muito bem feita, converse com seu nutricionista pra não dar um piriri. No final eu estava esgotada, desidratada, quebrada, no último km praticamente me arrastei pra dentro do estádio, de novo a pista de atletismo tão linda e...o que vejo ? Um cara correndo de costas ? que louco ? xi, ele tá me dando a mão para cumprimentar...eu cumprimentei né...cada figura! Ele deveria estar com cãimbra ou coisa parecida. Mas cruzei a linha de chegada! yes! completei minha primeira maratona! Me disseram que era difícil, que os últimos 7 quilômetros são um inferno, que dói tudo e... É TUDO VERDADE! Pra mim, a parte mais difícil de uma corrida é a hora de tirar o chip do tênis. Na maratona essa dificuldade beira o impossível : como me inclinar para baixo ou dobrar as pernas sem cair me contorcendo de cãimbra ? Quem já fez uma maratona sabe do que estou falando...como, meu Deus? Como?! Eu tava toda travada! Não tive dúvidas : me joguei de bunda no chão. Tirei o bendito. E agora pra levantar ? Fuck! Como ninguém me conhecia mesmo, rolei de bruços no chão, apoiei as mãos e os joelhos e fui me empurrando pra cima. Que cena. Fui pro hotel andando, 2 km, catatônica, feliz porém sofrendo, doía tudo e a temperatura tava 9 graus e baixando. Enrolada no plástico fininho que eles dão na chegada, fui resmungando : abstrai, xixi, agora não dá, abstrai, fome, não tenho comida e tá tudo fechado porque é domingo, que frio, não porra, pensa em outra coisa vai andando que uma hora chega....e apareceu minha salvação! Encontrei um outro maratonista na mesma situação lastimável que a minha. Fomos juntos conversando sobre a prova, ele era de Israel, me contou da vida dele lá na terrinha prometida, da galera que tava lá em Amsterdam e....sem perceber, cheguei no hotel!
Ah, last, but not least : fechei a maratona em 3h28 (fiquei devendo...) e meu pai fechou a meia em 1h45.
Recomendo essa maratona pra quem gosta de eventos mais tranquilos, o número de pessoas é bem menor que Berlim e Paris. A galera que acompanha é bem animada, tem gente o tempo todo dando força, só diminui na parte rural. É plana, mas por causa do vento não são batidos recordes lá. O clima de Amsterdam é chuvoso, frio e venta, portanto se agasalhe. Na largada, o pessoal costuma levar um agasalho velho e jogar fora antes de começar a correr, eu gostei da idéia, na próxima farei isso também, a gente passa muito frio parado em pé.
No dia seguinte da maratona, suas pernas estarão em frangalhos, acorde tarde, vá para a estação central, pegue um trem para Bruxelas, sente num restaurante bacana, coma uma porção de mexilhão com batatas fritas acompanhado de um bom vinho branco (ou uma boa cerveja belga), deleite-se (isso é para as garotas) com os garçons te atendendo em francês (ulalá!). Vá para a praça central e, de sobremesa, coma os melhores chocolates do mundo com a consciência tranquilíssima e curta a vida!








quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Maratona de Amsterdam (parte 1)



Era maio de 2008 e eu e meu técnico, Marcos Paulo, já tínhamos decidido que eu faria o Ironman de Floripa em 2009. Eis que chega uma quarta-feira, no treino de pista do Ibira, o Marcos Paulo, do nada, vira pra mim e fala : "Thelma, você que é uma pessoa que leva a sério os treinos, se fizer uma maratona antes do Iron vai ser o bicho, você vai adorar" na hora comprei a idéia. Ao meu lado estava meu pai, ele havia acabado de comentar comigo que estava pensando em fazer uma meia maratona na europa no segundo semestre, mas não sabia se iria fazer novamente a Meia de Amsterdam ou a Meia de Praga. Em Amsterdam, a meia e a maratona acontecem no mesmo dia, no final de setembro. Nossa, na hora deu o clique : "pai, vamos juntos pra Amsterdam, eu faço a maratona e você faz a meia" E ele : "fechado, hoje mesmo vou fazer as reservas no hotel que eu fiquei no ano passado". E assim aconteceu, treinei para a maratona e fomos juntos pra lá. A prova era no domingo e chegamos na quinta-feira de manhã. O fuso era de +5 horas. Muita coisa, eu recomendo chegar na terça ou no máximo na quarta. Isso pesou no meu cansaço da prova.
A meia era de tarde e a maratona de manhã, largada às 10h. Começa tarde porque amanhece tarde por aquelas bandas nessa época do ano e faz frio...brrrr. Acordei cedo, tomei meu café da manhã cheio de geléia, pão branco e banana e fui sozinha, uma caminhada de 2km. A largada é nada mais, nada menos que no estádio das olimpíadas de 1928. Sim, ele estava completando 80 aninhos e foi completamente restaurado. Lindo. Fiquei sentada nas arquibancadas, num puuuta frio, uns 10 graus, esperando dar o horário de descer pra pista e ficar no meu setor de ritmo. Na inscrição eu informei meu ritmo esperado e no kit veio uma pulseirinha com a cor do meu ritmo, aí era só entrar no setor com a minha cor. Irritantemente organizado.
Mas estava no estádio, sentada, só urubuservando...era uma babel, em poucos segundos eu identifiquei umas 10 línguas distintas, sem brincadeira. Mas a maioria era de franceses. Fui no banheiro do estádio fazer um pips básico, uma mulherada italiana cacarejando alto...muito engraçado, peguei um gatorade holandês horroroso, um tal de AA Sports Energy Drink e fui pro meu setor. Lá conheci um....francês. Sim, eles eram muitos. O cara era bem simpático, não falava uma palavra em inglês e eu não falava uma palavra em francês. Mas conversamos, não sei como. Entendi até que ele queria fechar em 3h20, acho que não conseguiu porque vi ele sofrendo no km 21...
Bem, foi dada a largada pontualmente às 10h. Aí aconteceu o inimaginável, em emoção só perde pra chegada do Ironman : nós demos uma volta na pista de atletismo do estádio e pegamos o portão que dá na rua, nessa hora, o povo que tava lá na arquibancada assistindo, vibrava muuuuuito, eles gritavam muito (nossa, fiquei emocionada de novo agora, eita porra), davam muita força pra gente, como se a gente estivesse indo pra guerra, eu fiquei de tal forma emocionada que comecei a chorar, olhava em volta e tava todo mundo emocionado, UHUUUUU!!! Saí gritando. Como eles dão valor pra esse tipo de coisa, igualzinho aqui na S. Silvestre, que as pessoas vão assistir pra depreciar o atleta e tirar sarro das pessoas, mas, enfim, esse talvez seja um outro post.

O percurso é todo muito plano, na segunda metade da prova aparecem alguns desníveis, tipo passar embaixo de um viaduto, por cima de uma linha de trem, mas basicamente plano. O piso, em algumas partes, é ruim, um paralelepípedo liso por onde passa a linha do bonde, isso pode machucar o pé, então eu aconselho um tênis com mais amortecimento e cuidado, mas são trechos pequenos. Passamos por alguns pontos turísticos da cidade e saímos beirando o rio Amstel em direção a parte rural. A estrada é de asfalto e estreitinha, tudo em volta são sítios e pastagens e tinha até um moinho de vento de madeira! As famílas nas porteiras oferecendo água, as crianças batendo palma pra gente e, quando viam que na minha camiseta estava escrito Brasil, era uma festa : GO BRASÍLIA!!!! hehehe Nessa parte venta forte, é bem descampado, se puder ficar num bolo de gente, fique e se proteja, o vento desgasta. Aliás, se estiver "calor" no dia dessa maratona : leve um agasalho, se estiver frio : ponha luva e protetor nas orelhas, nesse trecho você vai precisar. Depois pode tirar. O retorno é nesse clima bucólico : o esperado km 21. Meia maratona completada! Só falta voltar e fazer tudo isso de novo! hehehe (continua...)


Meia Maratona das Pontes

Espero que eu esteja errada, mas tá com um cheiro de mico essa prova...
Então o pessoal vai largar na Ponte Estaiada e chegar na USP ? E aí, faz como pra ir embora ?Deixa o carro na USP e vai de trem pra largada ou deixa o carro perto da Ponte Estaiada e no final da prova anda pra caramba até a estação de trem da USP e volta todo suado, cansado e fedido pra Ponte Estaiada ? Ou leva um anjo de staff pra acordar cedaço num domingão (a largada é as 7h), te levar pra largada e depois de 2 horas (em média) ir te buscar no final. Lembrando que não vai ser fácil se locomover nos arredores por causa das interdições da prova. Enfim, me soa tudo muito complicado...ah! algo que me ocorreu agora : por quantas pontes passa mesmo ? Só larga na Estaiada e chega na ponte da Cid. Universitária...hum. No meio é marginal Pinheiros e túneis...hum. Enfim, disseram que vão mudar o percurso pro ano que vem. Então vou esperar o ano que vem porque esse ano vai ser meio estranho. Quem for me conta depois como foi que eu estou curiosa.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cor-de-rosa

Outro dia li um artigo na revista Triathlete da triatleta canadense, campeã mundial, Samantha McGlone. Ela falava sobre os equipamentos femininos de triathlon e como os fabricantes de produtos esportivos desconsideravam a mulher atleta.

Ela disse que os fabricantes, em geral, pegam o equipamento masculino, pintam de rosa e vendem como equipamento feminino.

No quesito vestuário então é brincadeira : fazem tudo miudinho, baby look, justinho, curtinho. Alguém precisa avisá-los que a mulher atleta é forte, tem musculatura desenvolvida, treina pesado. Sua! A mulher atleta sua e sua pra caramba! Nós somos gente, não somos bibelôs, não somos a Barbie. Nós gostamos e precisamos de roupa confortável, de alta performance, de qualidade, adaptada para o nosso corpo, nós temos o quadril mais largo, a cintura mais fina, as mãos e pés menores... busto! O busto, de qualquer tamanho, precisa de uma camiseta que o respeite, de um top que o sustente (e não aqueles tops lindos mas sem função nenhuma, a não ser enfeitar). E o que mais pega nessa história toda é a qualidade dos equipamentos. Nós queremos a mesma seriedade, o mesmo respeito e nível de performance que estão nos equipamentos masculinos.

Os fabricantes de bicicleta são os que mais pisam na bola quando se fala de alta-performance. São raras as marcas de bike que possuem uma linha feminina de alta-performance, em geral são bikes xexelentas, pesadas, zero de aerodinâmica, com um grupo porcaria, mas pintadinhas de rosa ou com uma florzinha no quadro. Pega essa flor e enfia no...eu quero uma bike boa! Eu pedalo tão ou mais forte que os meus amigos homens, então por que me oferecem essa bike de m...?

E roupa de ciclismo ? É raro encontrar alguma peça de vestuário de ciclismo pra mulher. Eu andei reclamando disso uma época e a Nádia, mulher do Elpídio (que comanda a loja e mecânica Bike Elpídio, representantes da Bianchi no Brasil) resolveu fazer uma linha de roupa feminina de ciclismo, a Dama Bianca. Ela tem investido seu bom gosto e talento desenvolvendo roupas para mulherada. Eu uso tudo e aprovo, são lindas e funcionais. Vamos prestigiá-los, porque além de serem brasileiros, estão fazendo um ótimo trabalho, com respeito e consideração à mulher ciclista. O endereço é R. Tito, nro 1641, na Lapa, São Paulo. Vale uma visitinha, a loja é um show (e o Elpídio & Nádia também!).

Mas voltando ao rosa. Por que feminino=rosa? Eu gosto de várias cores, inclusive o rosa. Quem foi que começou essa história de enfiar o rosa pela nossa guela ? Pode parar! A camiseta de líder do Giro d’ Itália é rosa e os caras que vestem a “maglia rosa” usam tudo rosa! Inclusive o capacete e a faixa do guidão. E não fica nem um pouco feminino, pelo contrário, com a tez queimada de sol de tantos dias pedalando ao ar livre, os caras ficam gatíssimos. Enfim, vamos mudar nossos conceitos, vamos abrir nossa cabeça...ser feminina é muito mais que usar uma simples cor.


Amo muito tudo isso

Ontem foi dia de Troféu Brasil de triathlon em Santos. O dia estava péssimo, chuva o tempo todo, vento frio, mar agitado. Para quem foi fazer a prova, foi um programa de índio classificação 3 cocares normais. Para quem foi assistir, programa de índio 5 cocares de rubi. Ninguém merece um domingo desses...mas serve para darmos valor aos dias de brisa e céu azul.
Que mar era aquele ? Para chegarmos na primeira bóia foi um sacrifício, eu engoli água pra caramba, muito estressante, e olha que não tenho muita frescura. Diminuíram bem o percurso mas, psicologicamente, saímos um pouco desorientados para pedalar.
Passado o susto, agora era tomar muito cuidado com as faixas de pedestre e as curvas no pedal, fácil levar um chão. Decidi sentar a botina no pedal, girava um pouco para pegar embalo nas retomadas e logo em seguida punha uma marcha forte para ir a milhão. Percebi que estava sem cateye, era um pedal às cegas, melhor ainda, ia prestar mais atenção no meu corpo e no meu cansaço. Sentia a perna queimar, mas o fôlego estava bom, e queria arriscar e ver o que acontecia, naquele momento eu só pensava em pedalar forte, como se não houvesse mais nada a fazer depois, na corrida eu ia ver o que tinha sobrado...
Terminou o pedal, a chuva mandando ver sem parar, já estava de saco cheio de água na cara, irritada, larguei a bike na mão do Sidney (marido da Luciana, ambos atletas da Trilopez), xingando S.Pedro, coloquei o tênis e fugi dali com chapéu, Gu, cinto com o número, tudo na mão. Agora era a hora de fazer a contabilidade do que tinha sobrado nas pernas.
Comecei a correr um pouco forte, logo percebi e segurei o tchã. Conforme fui correndo, fui me sentindo cada vez melhor, incrível. Fui pensando comigo : esse esporte é um tesão! Amo muito tudo isso! Mesmo com essa porra de tempo eu estou fazendo o que adoro, que privilégio...ter um corpo saudável. Fiz uma prece a Deus em agradecimento. Tomei meu Gu e fui respirando lentamente para o diafragma não doer. Passada essa fase, encaixei o primeiro ritmo, dos 5k iniciais. Fazendo o retorno para os outros 5k, passei pela galera que vibrava muito e me encheu de energia, encaixei o segundo ritmo, mais forte. Passei pela marca de 6k, ritmo 3'50" pensei comigo : forte demais, mas tá bom, eu estou legal, vou assim. Faltando 1.5km não conseguia fazer muita força, o fôlego pedia mais, mas as pernas estavam pagando o preço da relação volantãoXcoroinha. Tudo bem corpinho, você fez um excelente trabalho hoje, é só chegar e comemorar com os amigos!
Terminei a prova em 2h12min, meu novo recorde pessoal. Tudo bem que o mar estava menor, mas em comparação com o tempo das outras garotas, foi bom demais. Fiquei com o primeiro lugar na categoria e no geral do elite amador feminino.
Próxima etapa em outubro, espero que S. Pedro seja mais camarada!

sábado, 19 de setembro de 2009

Pelotão Pedreiros

Houve uma época em que o Pelotão Pedreiros dominava a USP.

Hehehe...quem me dera, mas éramos bem razoáveis, pedalávamos direitinho, o nosso pelotão de ciclismo das terças e quintas-feiras de madrugada (o treino começava às 5:20) era invejado. Não pela grande capacidade atlética, mas pela alegria e companheirismo que transmitíamos, contando piada, tirando sarro de tudo e de todos e o mais importante : pela PADOCA que vinha depois do treino. (Para a padoca vou reservar uma postagem à parte que ela merece). Muitas vezes tive preguiça e cansaço para levantar da cama e ir treinar, mas a imagem dos Pedreiros e da padoca surgia em minha mente e quando eu percebia já estava lá girando para aquecer e rindo até. Eita que era bão demais, que saudades.
Nós nos encontrávamos de vez em quando fora dos treinos também, almoços, churras, casamento (fretamos um busão para todas as famílias dos pedreiros irem juntas para Curitiba no casório do Big Dog), aniversário de criança. E tinham mais eventos mas eu não participava porque eles precisavam fofocar....

Por que Pedreiros ?
Porque não tínhamos frescuras apesar de estarmos numa assessoria de frescos, a MPR. Nem todos que estão na MPR são frescos, mas todos os frescos estão lá, pode crer. E também para contrastar com a filosofia reinante do "clube do sorriso", que são os atletas que trabalham pouco, acordam tarde, treinam tarde e estão sempre sorrindo. Se o clube do sorriso tomava Accelgel (R$7,00 cada), Endurox e assoava o nariz com lenço de papel durante o pedal, nós, os Pedreiros, tomávamos um preparadinho caseiro, que se compunha de leite em pó, Nescau e maltodextrina, o gel era Exceed (R$1,50 cada) e assoávamos o nariz ao vento! Sai de trás! hahaha! Às vezes era tudo muito nojento, mas era aí que a gente curtia mais.

Quem eram os Pedreiros ?
Eram empresários, advogados, investidores, COs, etc. E euzinha. Vou dar nome aos bois:
Cachorrão - ou Big Dog
Peludinho - ou Ursinho Pimpão
Rubola
Ropebicha
Mexicano - ou Shakira
Leozinho
Jun
Lorde - ou Iceman
Celsones
Expresso Russo - ou Locomotiva Russa

O fim dos Pedreiros
Todos casados, meus grandes amigos tinham e têm grandes esposas. Aí a cegonha visitou uns, outros fizeram o Iron e bodearam, outros decidiram dar prioridade para outras coisas da vida. Eu acho tudo muito justo, o triathlon é maravilhoso mas ele nos deixa um pouco egoístas...

Alguns Pedreiros estão voltando
A galera tá voltando aos poucos. Outros nunca pararam, tipo o Mexicano esse finde tá em Cancún fazendo o 70.3. De todos aí dessa lista só o Rubola e o Peludinho estão completamente off. Pelo menos eu nunca mais vi em treino nenhum. O Rubola operou o joelho, já o Peludinho...te contar viu...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Cansei do Troféu Brasil de triathlon

Quem cansou do Troféu Barsil põe o dedo aqui que já vai feeeeeeechar!
Caraca! Gente, USP-Santos-USP-USP-Santos-Santos-Santos ? Valhamedeus que ninguém guenta essa rotina !!!!! Sempre a mesma coisa nos mesmos lugares, a mesma pulseirinha de velcro pré-histórica e a galera minguando...
Tudo bem que é super organizado, sério, pontual, etc. E é o único circuito que temos no Brasil de qualidade, etc. Mas eu já tô de saco cheio...buáaaaa
Muda! Muda! Muda! Sei lá como, mas precisar mudaaaaaaar!

Dean Karnazes

Fui apresentada ao Dean Karnazes através de um presente maravilhoso que ganhei da minha querida amiga Claudia Aratangy : o livro 50 maratonas em 50 dias. Ele é meu herói, meu guru, meu mestre, meu everything. E gatíssimo hein ? Deus agraciou o rapaz não só com um genótipo perfeito, o fenótipo também beira a perfeição, afe.
Nesse livro ele conta essa história insana das 50 maratonas e também dá dicas para os maratonistas sobre tudo, desde comer gengibre fresco pra indisposição estomacal e como não ter bolhas nos pés até a proporção entre carbo e proteína ideal para recuperação.
Se você terminar esse livro e ainda não tiver respondido aquela pergunta insistente comum a maratonistas e triatletas de longa distância : "por que eu faço isso ?"então é melhor começar a jogar críquete ou golf porque com certeza você está no esporte errado.
Eu nunca aceito que me digam o meu limite porque, engraçado, eu nunca concordo! O Dean Karnazes fez uma dedicatória no meu exemplar que diz assim : "Never stop exploring". Minha resposta para ele : Ok Dean! I won't stop!